Da esquerda para direita: G.V.S., I.V.I., J.S.R. e B.F.O.: acusados crimes bárbaros (Foto: Plantão Policial PI) |
O que levou jovens
adolescentes de uma pequena e quase pacata cidade do interior do Piauí, bem
franzinos, paupérrimos e com pouca idade a raptar, ameaçar, violentar
coletivamente quatro garotas (todas menores de idade) e ainda as amarrar e as
jogar de um desfiladeiro, com intuito de mata-las? O que explica a atitude de
depois de cometerem tudo isso, voltarem normalmente para casa como se nada
tivesse ocorrido? Por que fazer isso com alguém? Por que tanta frieza e
crueldade?
O caso, ocorrido em Castelo do Piauí (que tem aproximadamente 18.400 habitantes, localizada no Sertão Norte do estado, a 190 quilômetros de Teresina) tem abalado parte do Brasil e ganhado repercussão internacional. A acusação da autoria de tamanha atrocidade recai sobre os adolescentes: B.F.O, 15 anos, G.V.S., 17 anos, I.V.I, 15 anos, e J.S.R, 16 anos. Eles são acusados de raptar, estuprar e tentar matar quatro meninas (duas de 15, uma de 16 e uma de 17 anos) no final da tarde de quarta-feira da semana passada, 27 de maio.
O caso, ocorrido em Castelo do Piauí (que tem aproximadamente 18.400 habitantes, localizada no Sertão Norte do estado, a 190 quilômetros de Teresina) tem abalado parte do Brasil e ganhado repercussão internacional. A acusação da autoria de tamanha atrocidade recai sobre os adolescentes: B.F.O, 15 anos, G.V.S., 17 anos, I.V.I, 15 anos, e J.S.R, 16 anos. Eles são acusados de raptar, estuprar e tentar matar quatro meninas (duas de 15, uma de 16 e uma de 17 anos) no final da tarde de quarta-feira da semana passada, 27 de maio.
Os quatro garotos, assim como as quatro vítimas, são
moradores da pequena e pobre Castelo. O crime imputado a eles e ao desempregado
Adão José de Sousa, 40 anos (também preso), gerou revolta na cidade, que ainda
vive clima de luto. Todas as quatro vítimas continuam internadas em estado
delicado.
Eles são tidos como inimigos número um não só no
município, mas também em quase todo o Piauí. Diariamente manifestações exigindo
punição severa e até execução sumária são alimentadas em redes sociais virtuais
e também em rodas de conversa.
Os garotos,
tidos hoje como os "mais odiados" do estado inspiram a nova rodada de
discussões nacionais sobre o debate para a redução da maioridade penal. Os
quatro, presos horas depois do crime, foram transferidos de Castelo do Piauí,
sob ameaça de linchamento. Durante a transferência chegaram a levar murros e
safanões por parte de populares. Atualmente estão encarcerados em uma das duas
unidades prisionais para menores de idade da capital, Teresina. Eles recebem
vigilância constante. O maior de idade está na Penitenciária de Altos em ala de
isolamento.
A reportagem de O Olho foi apurar quem são esses garotos,
como eles viviam, quem são suas famílias, o que elas pensam sobre a
monstruosidade que vitimou as quatro garotas. Descobriu muitas histórias e
revela, em uma série de duas reportagens, que o problema está mais próximo
de acontecer em proporções e dimensões maiores em vários rincões do Piauí. É
uma epidemia quase nacional de jovens atolados nas drogas, na criminalidade, sem
estudar, sem saber ler e escrever e sem perspectiva de vida.
Os quatro garotos, apesar de morarem em pontos distintos da cidade, não
terem grau de parentesco e terem crescido em lugares diferentes, têm várias
características em comum.
Eles não estudavam, tendo vários problemas nas escolas
que já frequentaram, com histórico de abandono da vida de aulas. São também
semi-analfabetos, moram em lugares periféricos em situações de miséria, têm
famílias desestruturadas, com histórias de loucuras, depressão, abusos, abandono,
revolta e descontrole.
Os quatro também têm várias passagens pela polícia (com
um deles com quase uma centena de cconduções à delegacia local), além de serem
usuários de drogas e assíduos frequentadores de lugares de venda de
entorpecentes na cidade. Dois deles, inclusive, já tinham passagens pelo CEM
(Centro Educacional Masculino), lugar de encarceramento de menores infratores
do estado, em Teresina.
Todos os garotos não têm advogados - nenhum da cidade
aceita assumir o caso - e ainda não foram visitados por nenhum dos parentes.
As famílias estão com medo e duas delas já foram
ameaçadas, uma, inclusive, de expulsão da cidade. Uma das famílias, no início
do ano, já tinha sido expulsa do bairro em que morava por conta das ações
criminosas de um dos menores.
Confira as histórias de cada um dos acusados de
envolvimento no caso:
HISTÓRIA DE TENTATIVAS DE ESTUPROS NA PRÓPRIA CASA
Na esquina de uma das ruas sem pavimentação do bairro
Reffsa, na extrema periferia de Castelo do Piauí, moram a dona de casa
Elisabeth Vieira da Silva, 35 anos, e sua mãe, a aposentada Francisca Vieira da
Silva, 60 anos, proprietária do casebre construído há mais de 30 anos. Elas
são, respectivamente, mãe e avó do adolescente mais velho, acusado pelo crime
que abalou o Piauí, G.V.S., 17 anos.
Elizabeth: uma das mães. História de tentativa de estupro em casa. Está grávida de três meses / Foto: João Brito Jr/O Olho |
A residência está, em linha reta, a menos de 500 metros
do morro do Garrote (local em que ocorreu a barbárie). Da porta da casa
observa-se o lugar exato em que as garotas foram violentadas.
Na rústica residência, que tem como principal eletrodoméstico
uma televisão do século passado, poltronas com mais de 20 anos de uso e muita
simplicidade, além da mãe, da avó e do adolescente, ainda moram mais cinco
outras pessoas: duas filhas gêmeas de seis anos, um filho de nove anos, um de
12 anos e um de 19 anos, que sofre sérios problemas mentais.
Toda essa prole sobrevive do auxílio do Governo Federal,
o Bolsa Família, e da aposentadoria de um salário mínimo do jovem deficiente.
Vez por outra aparece na residência o marido de Elizabeth, padrasto de G.V.S..
O esposo passa vários dias fora de casa. A dona de casa diz que o marido é
alcóolatra e muito violento. Ela está grávida de três meses.
G.V.S. estudou apenas até a 6ª série, mas mal sabe ler.
Sua escrita não deixa muita diferença a crianças com menos de sete anos de
idade. Fazia anos que estava afastado da escola. Já tinha frequentado vários
colégios da cidade. Tantas mudanças era devido ao fato de ser considerado um
aluno violento e colecionar um histórico de expulsões, tido por boa parte dos
educadores de Castelo do Piauí como um “rapaz problema”.
Os parentes dizem que faz tanto tempo que ele deixou de
estudar que nem se recordam mais quando foi que abandonou os estudos. Só se
lembram da última expulsão, da escola Valdemar Sá, quando G.V.S. foi às vias de
fato com um colega. Os dois rapazes, nas palavras da mãe, quase se mataram de
tanta agressão física.
Perguntada se acha que o filho tem algo a ver com o
crime, Elisabeth foi categórica em afirmar que tem dúvidas. A revelação dela,
para tentar inocentar o filho, é porque o mesmo era contra o irmão, deficiente
mental, tentar abusar sexualmente as irmãs mais novas. “O mais velho, que é fraco
do juízo tentava sempre bolinar com as meninas e ele era muito contra isso.
Como é que ia estuprar alguém se ele não permitia o irmão fazer isso com as
irmãs e sempre brigava quando o irmão queria fazer alguma coisa”, questionou a
mãe.
PASSAGEM PELO “CEM” E PERDA DA CONTA DE VEZES QUE ESTEVE
PRESO
Elizabeth Silva assume que o filho tem várias passagens
pela polícia, inclusive internação no CEM, em Teresina. “Ele começou com 13
anos. A ficha é grande. Perdi as contas do tanto de vez que ele foi preso. Em
Teresina ele passou um mês e 45 dias preso. Ele roubou umas joias. Não andava
armado”, falou. A mãe também assume que sabia que o filho era usuário de
drogas. “Mas era maconha”, tentou justificar.
Mãe e avó de adolescente acusado de cometer um dos crimes mais chocantes da história do Piauí / Foto: João Brito Jr/O Olho |
Depois de
novamente ser perguntada se acreditava que o filho realmente estaria ou
não envolvido no caso, ela respondeu não e sim. Não (na opinião dela), devido
ao fato do adolescente ser contra o irmão nas tentativas de violência sexual
contra as irmãs, e sim porque no dia do crime ele estava "meio estranho"
e teria voltado para casa "desconfiado".
Elizabeth Silva conta que em 27 de maio, como quase todos os dias,
G.V.S. passou o dia sem fazer nada e “na rua”. Ela diz ter ido ao centro deixar
as duas filhas menores na escola e depois aproveitou para fazer compras e
esperar as meninas de volta. A mãe do menor diz ter visto o filho de novo
por volta das 17h. Depois ele teria saído de casa e só retornado às 23h,
drogado e desconfiado.
“Tinha muita movimentação de pessoas e de polícia na rua (nesse momento
a cidade se desesperava para procurar as meninas, ainda desaparecidas). Ele
apontou para o morro e disse que talvez tinham matado alguém lá”, revelou a
mãe. Esse é um detalhe que pode ajudar a incriminar o jovem e provar que a
intenção dos cinco envolvidos era realmente matar as garotas após rapta-las,
estupra-las e amarra-las.
Elizabeth Silva conta que chegou a ir ao hospital de Castelo do Piauí
ver a movimentação do caso. Mal sabia que horas depois o filho seria preso por
aquele crime. Policiais chegaram a passar pelo adolescente durante aquela
noite, mas ele ainda não tinha sido apontado pelos comparsas.
O adolescente foi o último, dos quatro, a ser detido. Ele foi
encontrado dormindo em casa no meio da madrugada. No início tentou negar,
mas, minutos depois, os policiais já voltaram com ele, algemado, dando detalhes
do ocorrido.
“Eu ainda não fui ver ele em Teresina. E nem quero. Não aguento. Estou
com problema de pressão e não posso tomar remédio porque estou grávida. Se ele
fez tem de pagar. Se for culpado não quero mais ele como filho, porque a
população não vai esquecer. Se soltar o povo mata ele. Já falaram isso para
mim”, revelou Elizabeth Silva, em tom de tristeza. Ela conta que a família tem
recebido ameaças para deixar a cidade.
“O povo vira as costas para mim. Eu não sou culpada. Não botei
estuprador no mundo. Não nasce escrito que ele seria assim”, finalizou.
Quando a reportagem estava saindo da residência, o padrasto de G.V.S.
estava chegando na casa. Estava visivelmente alterado e iniciou uma discussão
com a mãe do adolescente.
COMEÇOU A ROUBAR DESDE OS OITO
ANOS DE IDADE
Era quase 14h30. Fazia mais de 40ºC. Um calor infernal. No pequeno
galpão, transformado em casa de três cômodos, mora o adolescente I.V.I, 15
anos. Na residência estava o marceneiro aposentado Manoel Izaias, 63 anos, pai
do menor, e os dois irmãos mais novos. Naquele horário o almoço ainda estava
sendo preparado. Em uma única panela de pressão estavam sendo cozidas unhas de
boi. As duas crianças, irmãs dele (M., três anos, e J., dois anos) estavam
inquietas. A fome e a curiosidade da visita dos repórteres era notória.
Manoel Izaias: remédios controlados, evita sair de casa e filho que começou muito cedo na criminalidade / Foto: João Brito Jr/O Olho |
I.V.I. é o segundo filho. Há um mais velho, que tem 16
anos e não mora com os pais. Vive, como o próprio Manuel Izaias destacou,
“amancebado com uma menina”.
A casa estava muito bagunçada. Havia muita sujeira
dividindo espaço com a simplicidade do lugar. As paredes estavam riscadas e as
camas desarrumadas. O único utensílio que parecia ter menos de cinco anos era
uma geladeira. Não havia guarda-roupas. Uma mesa, cheia de malas velhas, fazia
as vezes de lugar em que eram colocados as roupas dos moradores da casa. O
lugar não tinha porta. A rua é dividida por um portão, que é fechado com dois
panos que servem de cortinas.
Os pais e as crianças dormem em duas camas, todas
separadas do que é a sala por um balcão (parece que antes o lugar era um bar).
I.V.I. dormia em uma rede, também no pequeno salão. Ele foi preso em casa
enquanto descansava na rede (que ainda continua no mesmo lugar e armada, como
se esperasse a volta do dono). Pelo humor do pai, sua presença não está fazendo
falta.
A residência em que moram, na região de limite entre o
Centro e a periferia de Castelo do Piauí, foi cedida pela irmã do pai do
garoto. Ele conta, constrangido, que até o início do ano moravam no bairro
Cohab, mas, por causa de série de crimes cometidos por I.V.I. terminaram
expulsos da região.
A família de I.V.I. vive da aposentadoria do pai do
garoto, que é inválido e toma remédios controlados, e do Bolsa Família. São
sustentados por menos de R$ 1 mil mensais.
O garoto nasceu em São Paulo. Veio para Castelo do Piauí
aos quatro anos de idade. Ele só recebeu seu primeiro documento de identidade
com mais de dois anos de vida.
Aniversário de 12 anos de I.V.I. o último. Outros foram comemorados em bocas de fumo |
I.V.I. completou
15 anos no 1º dia deste ano. Ele não teve festa com a família (a última – como
destacado na foto – foi aos 12 anos – com direito a bolo e refrigerantes,
patrocinados pela madrinha). O aniversário de debut foi comemorado regrado a
muita droga em uma boca de fumo da região.
Diariamente o rapaz, tido como o mais frio e o com mais passagens pela
polícia dos quatro menores envolvidos no caso das garotas, usava crack. Para
alimentar o vício roubava, furtava e atacava vítimas. Não escolhia idade, nem
lugar. Era contumaz corredor. Já tinha avançado do cargo de tomador de
celulares e produtos para abordador de pessoas usando facas e facões.
Sob encomenda, furtava motos e as levava para o vizinho município de
Juazeiro do Piauí. O esquema rendia algumas pedras de crack para sustentar o
vício.
Em um desses crimes, perseguido por policiais, se acidentou em uma
moto. Levou quase 40 pontos na cabeça; sofreu várias raladuras no corpo, mas
não deixava de roubar.
A foto dele divulgada em redes sociais, que está com uma espécie de
penteado moicano (mas ao contrário) não é um estilo, mas a raspagem capilar por
causa da cicatrização dos pontos depois do acidente.
O currículo de I.V.I. é estendido por quase cem passagens pela
delegacia de Castelo do Piauí. Somente no ano passado e este ano ele coleciona
nove processos já em tramitação na Justiça.
Segundo a Polícia Civil de Castelo do Piauí, fora os seus últimos
crimes que terminaram o tornando famoso, semana passada ele espancou e roubou o
comerciante Joaquim Laurentino de Oliveira. Também segundo a polícia, esse
assalto foi feito em parceria com o adolescente B.F.O., 15 anos, também preso
sob acusação da barbárie contra as estudantes. No dia 27 de maio, o mesmo dia
do crime de estupro coletivo, I.V.I. é acusado de ter roubado uma moto no
período da manhã.
“Ele aprontava praticamente todo dia. Era o terror da cidade”, revelou
um dos policiais civis de Castelo do Piauí, dizendo que somente ele já tinha
prendido I.V.I. mais de 20 vezes.
O pai do garoto diz que I.V.I. começou a realizar roubos desde os
oito anos de idade. De lá nunca mais parou de cometer crimes.
“Ele odiava a mãe”, revelou Manoel Izaias. I.V.I., por várias vezes,
teria tentado (e conseguido) agredir a própria genitora. Em compensação o pai
disse que o menino nunca tinha levado uma surra caseira. “Só apanhou da
polícia”. O motivo de tanto ódio era porque a dona de casa Patrícia Visgueira
Izaias, 38 anos, o queria sempre na escola. “Esse ano ele foi matriculado e
ficou três dias no Colégio Osmarina. Nunca mais foi lá”, destacou o pai. “Para
ele nada acontecia. Não se importava”. I.V.I. estudou até a terceira série. Sua
assinatura nos inquéritos e processos judiciais constatam que ele mal sabe
escrever: desenhava o nome.
“Ele só aparecia aqui em casa para comer, banhar e dormir. Passava o
dia na rua”, revelou o pai que revela saber que o filho é usuário de drogas
pesadas. “Na outra casa ele tentou levar drogas para lá. Eu não aceitei”,
confessou o pai de I.V.I.
Nem a própria casa escapava. O garoto, segundo o próprio pai, já tinha
roubado três facões, batedeira e aparelhos celulares. Outra prática de I.V.I.
era “sequestrar” o celular da mãe. O crime consistia no garoto “sumir” com o
aparelho e dizer que só devolvia se dessem dinheiro para ele. “Ele recebia o
dinheiro, geralmente R$ 50, e ainda sumia com o aparelho. Ia tudo para a
droga”, disse, envergonhado o pai do menino.
JÁ TENTOU MATAR ATÉ POLICIAL
Um dos casos que transformou I.V.I. em um dos bandidos mais temidos
de Castelo do Piauí foi quando ele tentou matar um dos policiais
militares da cidade. O PM tinha ido prendê-lo. Para não ser levado o adolescente
atacou o policial com uma faca. O crime só não foi consolidado porque outros
policiais, apontando armas para o adolescente, o fizeram desistir do intuito.
“Ele tinha coragem de fazer isso. Mais cedo ou mais tarde ia aprontar
mesmo”, revelou um dos PMs que estava de plantão no Grupamento de Policiamento
Militar da cidade. “Olha só a cidade como está tranquila”, refletiu.
I.V.I. já esteve no CEM, em Teresina, duas vezes. O juiz da cidade
preparava o terceiro pedido para esta semana. Voltou novamente agora pelos
crimes de estupro e tentativa de homicídio.
Desde a última prisão na capital do Piauí, terminada em fevereiro deste
ano, em vez de vir para casa foi direto para uma boca de fumo. Voltou a
delinquir no mesmo dia e só parou novamente após ser preso acusado de ser
estuprador das meninas.
O pai diz saber que o filho se envolveu com gente errada e
afirma que o mesmo tem de pagar caso seja comprovado que está no meio dos
que estupraram e tentaram matar as meninas. Diz não se preocupar muito nem se
impressionar com o que pode ocorrer com o filho. “Senão não durmo. Os remédios
controlados que tomo não resolvem se eu me preocupar”. Mas confessa que tem
medo de boatos. Alguns deles, espalhados e repetidos na cidade, dão conta de
que os adolescentes acusados foram esfaqueados na prisão em Teresina.
Seu Manoel passa o dia em casa, cuidando dos filhos. Ele guarda com
carinho um álbum com fotos de quando I.V.I. era criança. Sobraram nove fotos.
Outras foram destruídas em ataques de fúria. Em uma delas há um recorte na
cabeça do pai. “Ele fez isso dizendo que era meu chifre. Só Deus para ajeitar
tudo isso e ajeitar esse menino”, finalizou.
MÃE DEPRESSIVA, IRMÃO REVOLTADO
Casa simples em que mora o adolescente mais novo, acusado de ser um dos autores do crime / Foto: João Brito Jr/O Olho |
B.F.O. é o mais novo dos quatro adolescentes acusados de
terem cometido um dos crimes mais chocantes da história do Piauí. Também é o
menor em tamanho e, ao menos visualmente, é confundido facilmente com uma
criança.
Franzino e quase raquítico, dividia um dos quatro cômodos
da pequena casa do conjunto Vila Nova, também na periferia de Castelo do Piauí,
com o irmão de 16 anos, e a irmã, de 14 anos. Mora também com a mãe, a dona de
casa Cristiane Maria Fernandes, 40 anos, e o pai, o vendedor de peixes e
galinhas, José Márcio Oliveira.
Ele reside ali há pouco tempo, desde outubro de 2014. A
casa, localizada em uma rua sem pavimentação e sem saída, foi dada à família,
muito pobre, em um dos programas assistenciais do governo. Também recebem o
Bolsa Família, principal renda da casa. Há poucos utensílios domésticos e o
único eletrodoméstico é um rádio. Mesmo muito pequena tem muito espaço
sobrando. O único utensílio grande é um guarda roupa bem castigado pelo tempo e
uso.
B.F.O. só virou cidadão brasileiro de verdade quase dois
anos depois. Nasceu em 21 de janeiro de 2000, mas só obteve certidão de
nascimento em 31 de outubro de 2001.
Depois do crime, dona Cristiane passa o dia na porta de
casa. Suas únicas companhias são três cachorras (uma delas muito valente e
outra muito simpática) criadas pela família. Ela, que sofre de depressão há
quase 15 anos (inclusive com internações no hospital psiquiátrico Areolino de
Abreu, em Teresina) chora e se entristece. É dependente de três tipos de
medicamentos psiquiátricos. Ainda não viu o filho após a prisão.
Mãe está com depressão e toma vários remédios controlados. Filho abandonou escola na 5ª série / Foto: João Brito Jr/O Olho |
De todos os parentes entrevistados dos quatro
adolescentes acusados pelo crime Cristiane Fernandes é a única a dizer que tem
certeza absoluta que o filho é inocente.
Ela admite que o
filho parou de estudar na 5ª série. “Ele não queria ir mais”, comentou, sobre o
fato de B.F.O. não frequentar a escola e passar o dia ocioso. “Ele gostava de
sair”. A mãe também diz que não sabia que o filho tinha sido preso outras vezes
e que respondia a vários crimes, inclusive o espancamento e assalto a um idoso.
No momento da entrevista com dona Cristiane Fernandes, o irmão do
adolescente chegou à residência. Ele diz que algumas pessoas da cidade o
confundem com o irmão. Visivelmente irritado também acha que o irmão é
inocente. “Ele fazia era dispensar as meninas que queriam ficar com ele. Então
por que iria fazer isso?”, indagou.
A mãe de B.F.O. diz temer vingança com a família. Ela lembra que nunca
tirou uma foto com o filho e também que nunca soube do envolvimento do filho
com entorpecentes.
DROGAS E VERGONHA DO PAI
O adolescente J.S.R, 16 anos, nas últimas semanas estava trabalhando.
Fazia bicos de operário braçal na construção da casa de um dos vereadores de
Castelo do Piauí. Passava parte do tempo no trabalho e outra parte consumindo
drogas lícitas, principalmente cachaça, e também drogas ilícitas.
O emprego era uma chance dada pelo político como incentivo para o rapaz
sair da vida da criminalidade.
Ele foi o primeiro a ser preso justamente por voltar com sinais de
estar drogado, com roupa suja e calça manchada de sangue.
Desde que o crime ocorreu, a residência está fechada. Mãe de adolescente teme represálias / Foto: João Brito Jr/O Olho |
A mãe de J.S.R., a dona de casa Ana Maria Rodrigues, teve
de se mudar de casa por ameaças. Ela morava sozinha com o adolescente em um
casebre nas proximidades de uma lagoa do bairro Cohab. Somente um cachorro e
algumas roupas estendidas há dias no sol denunciavam que alguém habitava o
cubículo, feito de taipa. O lugar estava fechado a corrente. De todas as casas
dos quatro acusados, é a menor e a mais simples.
Os vizinhos limitam-se a observar e a fazer especulações.
Muitos deles passam o dia na porta observando a movimentação de pessoas na
casa.
Ana Maria estava separada do pai do garoto desde o final
do ano passado. Ela não consegue falar sobre o caso. Perguntada sobre o que
acha de tudo isso, começou a ficar nervosa e a soluçar.
O pedreiro Francisco Antônio Jerônimo, 40 anos, mora com
a mãe, no Centro de Castelo do Piauí. Eram nítidas as expressões de vergonha
que estava sentindo pelo ato que o filho é acusado. Ele diz que a família está
toda abalada, mas que compreende que sofrimento maior é o das famílias das
meninas. “O crime é imperdoável”, frisou o pai.
Perguntado se acha que o filho tem algo a ver com o
brutal crime relatou que há testemunhas que dizem que J.S.R., no momento do
ocorrido, estava juntando estacas. “Ele andava junto sim com os outros, mas de
uns dias para cá eles estavam brigados”, revelou o pedreiro.
Francisco Jerônimo confirma que J.S.R. era usuário de
drogas e já tinha sido preso algumas vezes.
Mas a principal revelação do pai do garoto é que sabe que
se ele retornar à Castelo do Piauí será morto. “A cidade quer fazer isso. Se
ele fez, que coma o pepino sozinho. A gente não apoia. Se errou tem de pagar o
pato”, sentenciou.
Assim como os outros garotos os familiares de J.S.R.
ainda não o visitaram em Teresina. A mãe alega condições financeiras e o pai
disse que não quer ver o garoto.
O lugar em que as meninas foram atacadas virou ponto de
peregrinação. Mais de 200 pessoas visitam diariamente o lugar. Muitos procuram
pertences, outros especulam e quase a maioria quer vingança.
FONTE: OOLHO.COM
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe Seu comentário AQUI